quinta-feira, 4 de março de 2010

Faça o que eu digo não o que eu faço (quem pode apontar o dedo?)

Rodrigo C. Vargas

A guerra fria acabou, mas outras frentes de batalhas foram abertas e continuaram entre os Estados Unidos e qualquer um, obviamente mais fraco. A intenção estadunidense de conter o Irã frente seu programa nuclear é simples: não dar voz a quem não se cala. O Irã apesar de não ser um país “democrático” segundo Washington, abre a possibilidade de seus 19 milhões de eleitores escolherem através de listas abertas o novo parlamento. E tem até comício!

O regime iraniano tem pontos falhos. É o segundo país do mundo em execuções, depois da China, e um dos poucos que aplicam pena de morte a menores de idade, homossexuais e adúlteros. Há também segregação dos sexos como no caso da proibição de mulheres frequentarem o curso de Direito. Mesmo assim, a participação das mulheres na economia iraniana é superior à da maioria dos países muçulmanos e alguns ocidentais: 40% das mulheres maiores de 15 anos trabalham, mais que no Chile (36,9%), Turquia (28%) e Arábia Saudita (18,9%). Dos estudantes no ensino superior, 51% são mulheres, porcentagem equivalente a de países ricos como a Holanda e mais alta que a do México (50%) e Chile (48%).

A maior prova do quanto somos reféns de uma produção de imagens e notícias baseadas na propaganda política está na distância entre o que é e o que somos forçados a pensar ser. A renda per capita iraniana é superior à do Brasil e da África do Sul e o produto interno bruto é maior que o de alguns países do G-20. Ainda assim, as mídias exageram ao criar a imagem de uma ditadura primitiva de fanáticos pronta a atacar seus vizinhos. O regime dos aiatolás nunca atacou vizinhos e apesar das hostilidades frente a Israel, respeita sua minoria judaica que não sofre restrições no culto, educação ou viagens ao exterior. O exemplo está bem próximo, quando Ahmadinejad questionou o Holocausto não foi apenas o mundo que se voltou contra suas insinuações, o líder da comunidade judaica iraniana, Haroun Yashayaei, criticou duramente o presidente do Irã e não foi punido.

É justamente em assuntos como esse que a imprensa brasileira se mostra tão americanizada quanto Zé Carioca. Criticar o governo Lula por apoiar o diálogo ao invés das sanções como quer Hillary Clinton é dar apoio ao insulto bélico entranhado no espírito lá de cima que coloniza e massacra em nome do que é considerado por lá como liberdade.

Impedir Ahmadinejad de insistir em pesquisas tecnológicas em seu país é incoerente, principalmente quando o critico tem o poder atômico de destruir a vida na terra 34 vezes, como se apenas uma já não bastasse.

É preciso dar exemplo! Se as bombas nucleares ainda existem é por que há a possibilidade real de serem usadas, ou todos esqueceram Hiroshima e Nagazaki? Para que serve a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica)? Não seria apenas para manter o clube dos que tem continuando a ter, e dos que não tem a esquecer essa possibilidade?

Para poder bater a mão na mesa primeiro os Estados Unidos teriam que acabar de vez com o arsenal atômico senão do mundo, pelo menos com o seu. Democracia é todos terem o mesmo direito, ou não é bem assim Tio Sam?

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