quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Else Lasker-Schuler, a poeta expressionista alemã e seu piano azul




Paula Valéria Andrade
paulavaleriandrade@hotmail.com
Escritora e poeta

A autora alemã ocupou com destaque a liderança dos poetas expressionistas e seu trabalho a laureou como uma das mais proeminentes mulheres escritoras do começo do século 20.

Nem tão celebrada como deveria, Else agora nos anos 2000 ganha um pouco mais de atenção e alguns estudiosos começam a rastrear sua trilha poética. As traduções ajudam, e a de Audri Durchslag-Litt e Jeanette Litman-Demeestere (em 2002) dos poemas seletos para o inglês pela Green Integer Books, fizeram possível este artigo, já que o livro chegou em minhas mãos pelas estantes da livraria do “indicados” do Metropolitan Museum de Nova Iorque. No momento os expressionistas estão em voga na cidade, pois a exposição “Van Gogh and Expressionism” na Neue Gallery(*) revela a influência que o pintor causou no expressionismo alemão e austríaco. Entre seus seguidores, encontram-se telas de Gustav Klimt, Egon Schiele, Ernst Ludwig Kirchner, Otto Dix, entre outros. Portanto, neste fervilhar de idéias e revivals, artistas do período voltam a povoar as prateleiras dos cafés e Else se encontrava em uma delas.

Nascida em um lar judeu há mais de um século atrás na cidade industrial de Elberfeld, na Alemanha, a poeta viveu em Berlim, mas ficou conhecida mesmo como “The Black Swan of Israel” (“O cisne negro de Israel”). De ancestralidade judaica e cultura e nacionalidade alemã, Lasker-Schuler viveu esta dicotomia durante a guerra e com ela todos os sofrimentos e conflitos acarretados pelo impacto do nazismo.

Descrita por Karl Kraus (e reconhecida) como “the greastest lyric poet of Modern Germany”(a excelente poeta lirica da Alemanha moderna). Lasker-Schuler viveu a vida de uma forma boêmia, dividindo a trajetória artística do pós-guerra da Primeira Guerra Mundial em Berlim com seus amigos, entre eles os escritores Franz Marc e Gottfried Benn. Fluente em hebreu e alemão, versou em ambas as línguas e polemizou realidade e fantasia com sua imaginação pouco comum. Em 1901 casou-se com George Levin, um compositor e crítico de arte que passou a ter o codinome Herwarth Walden (inventado pela poeta) ficando assim extremamente conhecido como um dos maiores teóricos e divulgadores do movimento do Expressionismo alemão. Na Berlim de 1904, ele fundou a sociedade artística “ Verein fur Kunst” e em 1910 deu início a publicação “Der Sturm” , que logo tornou-se o jornal expressionista de maior circulação e fama da época.

Em 1939, quando o governo nazista tomou o poder, ela – que já havia sido torturada com pancadas e a ferro quente, e punida por eles anteriormente – imediatamente embarcou num trem para escapar da Alemanha. Após uma breve estadia em Zurique, terminou seus dias em Israel aonde se associou a escritores experimentais, estes celebravam com veemência sua ancestralidade judaica em seus textos.

Else Lasker-Schuler tem como obras notórias seus livros de poesia “Hebrew Ballads” (1913) e “My Blue Piano” (“Mein blaues Klavier”) (1943), esta sua última publicação. A poeta faleceu em 1945 e foi enterrada no local do ‘Monte das Oliveiras” em Jerusalem. Em seus últimos anos de vida, Else foi vista como uma hippie que circulava pela cidade com um enorme sorriso nos lábios. Antes mesmo da moda dos anos 70, a poeta já era uma pioneira e praticava no seu cotidiano, o movimento de “Paz e Amor” (Peace and Love).


Mein blaues Klavier


Ich habe zu Hause ein blaues Klavier
Und kenne doch keine note.

Es steht im Dunkel der Kellertur,
Seitdem die Welt verrohte.

Es spielen Sternenhande vier
- Die Mondfrau sang im Boote –
Nun tanzen die Ratten im Geklirr.

Zerbrochen ist die Klaviatur….
Ich beweine die blaue Tote.

Ach liebe Engel offnet mir
- Ich As vom bitteren Brote –
Mir lebend schon die Himmelstur –
Auch wider dem Verbote.

Meu Piano Azul

Eu tenho em casa um piano azul
Mas não tenho nota para tocar.

Encontra-se à sombra da porta do porão,
por lá desde a decadência do mundo.

Mãos de quatro estrelas, tocam harmonia
- a Lua virgem cantou em seu barco –
Agora ratos dançam nas claves.

Quebrado está o teclado...
eu lamento pela triste morte.

Ah, amado anjo, abra para mim
- pois tenho comido pão amargo –
o portão do Paraíso, enquanto continuo viva,
ainda que contra o decreto legal.

(tradução em Português – Paula Valéria Andrade)

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