sexta-feira, 20 de março de 2009

A escola é a cara do diretor

Daniel Lins
dlins2007@yahoo.com.br
Sociólogo, filósofo e psicanalista,
com doutorado em Sociologia - Université de Paris VII -
Université Denis Diderot (1990)
e pós-doutor em Filosofia pela Université de Paris VIII (2003)

A Coréia do Sul e a Finlândia, países que atraem, graças ao sucesso planetário, visitantes do mundo inteiro à procura da receita apropriada à gestão de uma educação vencedora, escolheram a figura do diretor como eixo de uma “educação vitoriosa”. paralelamente, outros países : Reino Unido, alguns estados da América do Norte, Vietnam, Grécia, Islândia etc., que alcançaram resultados extraordinários na educação, repetem a mesma máxima: “A escola é a cara do diretor”.

Neste contexto, proponho fragmentos de uma entrevista exclusiva com o Dr. André Metz, educador e pesquisador do “Estado atual da educação finlandesa”.

- O que é um diretor?

- Um diretor é antes de tudo um sujeito altamente formado. A maioria possui doutorado, sendo mestrado, diploma obrigatório para exercer a função. Sua formação integra os saberes da gestão, da micro-economia, da cognição ampliada pela riqueza da transversalidade sem a qual a questão relacional não existe, e das culturas em geral. É alguém que deve falar pelos menos duas línguas, afora a língua pátria, sendo prioritário o inglês e o francês, às vezes, o espanhol, no caso dos USA, por razões históricas. Na Finlândia os diretores aprendem o inglês e o francês; na Coréia do Sul, o inglês é prioritário, podendo optar por uma segunda língua :o alemão ou o francês.

- Para que serve um diretor?

Ele é a mola mestra da Escola. O critério de competência constituindo o axioma fundamental de seu engajamento, ele é um expert em gestão e conhecimento pedagógicos. Ativo, em formação constante, permanente, ele gera a Escola como um Diretor de alto nível administra uma empresa, sem misturar, porém, educação com empresa, mas levando à educação a ciência empresarial.

Palavra de ordem: a Escola deve ser vencedora de seus objetivos e projetos. Eis por que a valorização e formação do Diretor é uma obviedade para os países em que a educação obtém um real sucesso.

Na Inglaterra, Finlândia, Coréia do Sul e em alguns estados da América, ele controla suas equipes de trabalho, mas é ao mesmo tempo controlado por um comitê de sábios ao quais deve, se necessário prestar conta.

No caso inglês, o controle é bimestral, e a formação permanente. Nos países aqui citados, as metas são objetivas: realizá-las faz parte do que se espera da gestão do diretor. A discussão e o diálogo constituem, todavia, armas importantes para compreender mudanças estruturais dos países e, assim, poder melhor “julgar” o sucesso esperado ou as problemáticas ligadas as micropolíticas, por exemplo, na influência de uma “queda de produção” no empreendimento Escola.

- Há eleições para diretores?

- A seleção dos diretores, na maioria dos países europeus, não passa pelas eleições, sobremaneira os países-exemplos de sucesso integrado da educação na contemporaneidade. Salvo a América Latina e Central, em que perduram eleições para diretor, essa prática é algo de um passado longínquo. A eleição para diretor, em conseqüência de seus efeitos perversos e inoperância democrática faz hoje parte da história antiga. E a democracia ganhou!

Na Inglaterra, Finlândia e Coréia do Sul, além da escolha meritocrática, incluindo neste item sólida formação intelectual, filosófica, pedagógica e científica, há um ensino oferecido por cada país aos candidatos selecionados; em alguns casos, como na Coréia do Sul, pode chegar a 14 meses. A formação é dada por grandes autoridades reconhecidas no assunto, e o ensino da gestão, da economia da administração, é obrigatório para todos os candidatos.

A entrevista do professor Metz motiva a louvar o projeto do atual governo de inaugurar no Ceará o Centro de Formação de diretores.

“Os professores e a ‘baboseira”, com este título, a Veja de 29 fevereiro de 2008, provocou uma comoção no Brasil, instigando reações de diversas secretarias de educação. Proponho, a título de reflexão, o seguinte fragmento:

“É preciso melhorar a qualidade dos diretores. Não é possível que todos os professores possam dizer se ‘fulano é um péssimo diretor” e o Estado não consiga se apropriar desta informação, insistindo em escolhas equivocadas. O primeiro passo é o convencimento de todos que sem um bom diretor, mínimas chances de produzir uma educação de qualidade satisfatória. Mas se, na prática, os diretores são indicados pelo clientelismo dos governos locais ou, mediante concurso, estão politicamente compromissados de modo mais ou menos velado com estes mesmos governos, a escola desse diretor dificilmente terá a cara dos professores nem dos alunos que lá estão”.

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