sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Sartre - existencialismo e humanismo

Carlos Henrique Carvalho Silva
carlosmachiavelli@yahoo.com.br
Mestre em Filosofia Contemporânea e Coordenador do Grupo de Estudos Sartre - UECE

“O homem é a medida de todas as coisas, das que são e das que não são.”
(Protágoras)


O pensamento de Jean-Paul Sartre confunde-se com a história da França e do mundo no século XX. É difícil conceber na estrutura do pensamento contemporâneo, uma personalidade com tamanha profundidade e versatilidade no que tange ao conhecimento humano. De fato, fala-se de Sartre como um sujeito impar, que foi capaz de deixar um grande legado para a epistemologia do ocidente ao expressar a condição humana de forma tão intensa e radical.

Nascido em 21 de junho de 1905, Sartre viveu os momentos mais marcantes do confuso século com a primeira metade sendo intercalada por duas grandes guerras mundiais, pela crise do capital na quebra da bolsa em 1929, e na segunda metade com a guerra da Argélia, o colonialismo russo, americano, inglês e francês, a péssima condição dos operários das fábricas, a revolução cubana, a guerra do Vietnã, o anti-semitismo, o racismo etc. Foi a partir de todos esses eventos que ele construiu uma vasta trajetória de homem que nunca negou a responsabilidade de ser sujeito da sua história, bem como de personalidade permanente no mundo do pós-guerra, visto que nunca relaxou em se engajar ativamente para fazer frente aos problemas do seu tempo.

Autor de frases notáveis como: “O homem está condenado a ser livre”, “O inferno são os outros”, “A existência precede a essência”, enfim, de obras por uma filosofia da ação, do engajamento, da ética enquanto prática e da liberdade. Sartre destacou-se no cenário francês do pós-guerra, a partir de 1945 até o fim da vida, em 1980, deixando sua marca na história da filosofia pela expressividade do pensamento e por uma proposta de uma ética enquanto fundamentadora do nosso caráter de ser livre.
Sartre é um homem múltiplo. Para se ter uma noção: é o pensador que se expressa em suas análises, sobre os mais complexos tipos de sistemas e idéias que perpassam a antropologia, a ética, a literatura, a política, o cinema, o teatro, o jornalismo e outros campos que, por ventura, não mencionaremos. Ao abranger todas as perspectivas possíveis na compreensão do que é o homem, ele se destaca no século XX como o arquétipo do sujeito engajado em todos os sentidos, sempre em busca de afirmar, na prática, a autonomia do homem frente ao Estado, à sociedade, à família e às instituições de caráter alienante. Suas incontáveis obras falam por si. Denominado pai de uma corrente filosófica: o existencialismo-ateu, que entre os anos de 1940 e final de 1960 se tornou moda no mundo, Sartre fez de um tempo marcado pelas agruras das guerras e dos conflitos, o portfólio fiel para a interpretação do homem do seu tempo ou ainda, do humanismo que latejou e ainda lateja no panorama histórico e filosófico do ocidente.

A questão do humanismo em Sartre não pode nunca ser confundida com o humanismo que fincou raiz na modernidade. Ao contrário, o humanismo que a modernidade cartesiana (Descartes) abraçou com todas as forças acreditava na realização de uma essência humana definida antes mesmo de nossa existência. Em outras palavras, o humanismo moderno, embora, aceitasse os pressupostos da razão, é profundamente imbuído de um teocentrismo, que colocava Deus acima de todas as coisas.

Já o humanismo de Sartre pode ser mais bem compreendido através de sua mais destacada conferência, intitulada O existencialismo é um humanismo. Sartre tenta repensar sua filosofia, procurando explicar por que considera a filosofia existencialista um humanismo. Afirma que o homem não nasce com essência alguma. Inicialmente apenas existe, aparece, está aí, jogado, e só depois será alguma coisa, dependendo do que faça de si mesmo. A existência do homem é uma condição para ele construir-se como homem. E isto não quer dizer apenas o desenvolvimento biológico ou psíquico. O homem deve construir-se a partir de seus planos, a partir da responsabilidade que tem por si e pelos demais. Esta responsabilidade faz o homem sentir-se em contato com o mundo que o cerca, e ser tocado pelos problemas da sociedade. Isto lhe gera angústia, que “não deve levar a um quietismo, e sim à ação”, buscando tornar-se útil à sociedade. “O homem está condenado à liberdade”. Tal é a máxima sartriana, inúmeras vezes citada, que se tornou um lugar comum ao se falar em liberdade. Por que condenado? Afirma Sartre, que a essência do homem é liberdade. Os homens fazem a partir da liberdade, o que bem entendem de si mesmos.

Com isso, evidencia-se que Sartre não foi simplesmente um filósofo e por ter desenvolvido múltiplas atividades na sua vida, acabou despertando o interesse para-além da Academia. De fato, não é um erro afirmar que a figura pública do intelectual engajado nasce e morre com Sartre. Como um existencialista, ele se esforçou por mostrar que a existência é sempre um estar em situação. Assim, é sobre o paradigma da existência que ele construiu toda a sua filosofia. A existência é uma condição fundamental para a construção do projeto humano. O homem é tido como o conjunto de suas ações e, nelas, ele afirma a sua condição de ser humano. A partir daí tudo se encontra aberto às possibilidades, nada que diga respeito ao humano é fechado, tudo é possível na ordem do acontecimento.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Aspectos jurídicos e humanitários do asilo político

José Haroldo Bezerra Coelho
cristojo@oi.com.br
Padre e Sociólogo

“O objetivo do asilo político é proteger os que divergem da ideologia oficial, que, em represália, põe em perigo a vida ou a liberdade dessas pessoas”. (Dicionário de Ciências Sociais, 2ª EDIÇÃO, Editora da Fundação Getúlio Vargas, RJ – 1987).

Resolvi abrir as minhas reflexões a partir desta definição de asilo político, com a intenção de informar as pessoas simples (não intelectualizadas) a respeito deste conceito. É verdade que as novas gerações vindas dos tempos de ditadura militar, não estão habituadas com tal conceito. O fato do pedido de asilo político de Cesare Battisti desencadeou uma grande repercussão no país e lá fora.

Algo de vergonhoso e desrespeitoso aconteceu quando o ministro do exterior italiano deu uma declaração a TV em que contestou, numa linguagem nada diplomática e educada, nosso ministro da justiça, Tarso Genro. Só esta atitude seria suficiente para o rompimento de relações diplomáticas com o governo italiano. Se fosse o contrario, o povo italiano já estaria nas ruas protestando. A ofensa feita à categoria das bailarinas, além de racista é inaceitável.

Os saudosistas dos anos de chumbo têm a memória curta, pois nos anos 60 o Brasil deu asilo político a um personagem nada democrático, que ficou célebre pelos atentados durante a guerra da Argélia. Trata-se do político francês Georges Bidault. Ele e seu grupo assassinaram mais de 5 mil pessoas no território francês. Tentou 20 vezes tirar a vida do Gal. Charles De Gaule. Temos outros exemplos, mas este é o suficiente.

Quem na história do Brasil, relativamente recente, não cometeu deslizes contra o “status quo” nos momentos graves de crise política. A oposição aproveita-se desse contencioso diplomático para atingir o presidente da república. No caso em questão, oposição e situação devem estar unidas em solidariedade ao perseguido político italiano – Cesare Battisti.

O instituto do asilo político deve ser reservado aos militantes idealistas, principalmente quando renunciaram as práticas violentas o que aconteceu com Cesare Battisti. Ele poderá dar uma grande contribuição na formação cultural do povo brasileiro, principalmente os pequenos e deserdados da cultura a que tinham direito. Espero eu, como todo o povo brasileiro, que o Supremo Tribunal Federal não enterre a tradição brasileira de conceder asilo político aos perseguidos pelos intolerantes e indiferentes que, ocasionalmente, governam a nação. Tudo passa. Antigamente na ocasião da coroação dos papas, queimava-se uma estopa para mostrar que a vaidade é passageira – “ Sic transit gloria mundi”(Assim passa a glória do mundo).

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Educação, poder transformador nas sociedades modernas

Jesus Garcia Pascual
garciapascual2001@yahoo.com.br
Professor Adjunto da UFC
Doutor em Educação Brasileira

A primeira observação que faço se refere aos avanços atuais que as Políticas Públicas Educacionais significam na última década. Quem atua na educação brasileira sabe, contudo, que a frase “a educação é base do desenvolvimento social e econômico do País” − tão difundida nos meios de comunicação, nos palanques políticos − não utilizou toda sua força transformadora. Mas por que isso demora tanto? Escrevo aqui algumas ideais, peneiradas ao longo de mais de 34 anos trabalhando em todos os segmentos da Educação Brasileira:

1ª A pirâmide invertida. Pensem nas pirâmides egípcias se estivessem apoiadas sobre seus vértices e não sobre as bases! Quanto esforço para manter o equilíbrio, mas tudo bem! Seriam milhares de escravos a desfiar as leis físicas e se elas se impusessem qual o problema de tantas mortes! Pois é assim que interpreto a história da educação no Brasil, porque desde seus primórdios observo que a educação superior foi beneficiada pelos cofres públicos para atender à necessidade das elites se manterem no poder. Mas para um país crescer sustentavelmente precisa de pessoas ‘educadas’ desde sua infância porque nós não nascemos prontos para compreender o mundo que nos rodeia. Nesse sentido, tornam-se necessários projetos que potencializem escolas de educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio (infra-estruturar pedagógica muito boa, boa remuneração e reconhecimento social dos profissionais) para que as crianças instrumentalizem com linguagens naturais (saber interpretar muito bem o português e comunicar-se em outra língua); linguagens artificiais (lógica, matemática, informática); semântica (interpretar o símbolos de cultura brasileira e mundial); que saibam ler o planeta Terra (suas potencialidades e limitações); entender que a cooperação promove a sobrevivência de nossa espécie etc.

2ª Perda energética da educação no Brasil. A segunda lei da termodinâmica nos diz (de forma muito simplificada) que em cada troca de energia, perde-se alguma quantidade dela. Quanto mais trocas de energia educacional tivermos, menos energia chegará da fonte principal até seu destino final. Com isso quero dizer que há perda energética da educação no Brasil quando ela passa da legislação federal (fonte primária das ideias e dos recursos financeiros) pela legislação estadual (fonte secundária das ideias e dos recursos financeiros) e daí pela legislação municipal (fonte terciária das ideias e dos recursos financeiros). Sem destruir a transmissões da energia educacional estadual e municipal, penso que a base da pirâmide estará mais sólida e com menos perda energética se o Governo Central implementasse Centros Federais de Educação (CFE) em cada estado da Federação nos níveis da educação infantil, ensino fundamental, ensino médio nos moldes que usa para as universidade federais. E friso que deveremos chegar a valorizar ‘as tias’ e ‘professores desviados de sua graduação’ (formando competentes professores e profissionais altamente qualificados) no início da educação do mesmo modo que valorizamos obstetras e pediatras no início da vida!

3ª Repensar a valorização das profissões. Quanto tempo leva um cientista renomado ou um professor universitário para atingir esse grau de qualificação? Então, por que crianças e jovens gastariam tanto tempo e dedicação para obter essas profissões se há outras que lhe oferecem muito mais reconhecimento social (celebridades) e dinheiro (esporte)? Penso que devemos investir mais em centros educacionais para crianças e jovens onde aprendam a valorizar todas as profissões (socialmente reconhecidas e economicamente dignas) mediante a cooperação para uma sociedade mais equilibrada em todos os sentidos. Diminuirão certamente as ‘diferenças exorbitantes’ entre os cidadãos! Ora, se não posso obter a felicidade plena que apenas certas profissões podem me dar, para que estudar, para que trabalhar se há meios escusos que encurtam o caminho! Cabe, pois, refletirmos sobre quais são os parâmetros que nós adultos colocamos para avaliar o nível de nossa satisfação: ter dinheiro, ter poder, ter fama, ter coisas... ou ser modelos éticos para as gerações de crianças e de jovens? Por isso, o poder transformador da educação para fazer o Brasil alcançar tantas potencialidades passa pela educação porque possuir conhecimentos significa relacionar-se de modo mais avançado com a vida!