terça-feira, 14 de outubro de 2008

Sobre a cultura japonesa

Laura Tey Iwakami
lauratey@uol.com.br
Pesquisadora da Origem e Cultura Japonesa
Doutora em Comunicação e Semiótica PUC-SP

Em um livro intitulado “Império dos Signos” (1970), Roland Barthes faz uma leitura sígnica sobre o Japão e sua cultura, quando da visita dele àquele país. De fato, se deixarmos um pouco de lado a “visão racional” ocidental e adentrarmos no mundo dos sentidos, talvez possamos compreender melhor a Cultura Japonesa. Uma das características singulares da cultura japonesa é a “sensibilidade” e a percepção do externo pelo sujeito. O aspecto holístico no tratamento com a natureza e o homem, compreendidos no espaço físico, social e histórico, é um ponto marcante nas manifestações culturais e artísticas dos japoneses.

Assim, procuram perceber e sentir o ambiente em que vivem, os outros com quem convivem, respeitar o espaço coletivo que é deles também. Na expressão do pensamento e dos sentimentos, buscando um sentido próprio e particular no modo de se comunicar, as manifestações artísticas representam bem essas particularidades.

A “sociedade” para os japoneses é uma comunidade em que há estreitas relações inter-humanas e, por isso, o “outro” passa a ser considerado como aquele que convive no mesmo mundo e espaço naturais, num relacionamento presente, harmônico e complementar. É essa consciência da relação com o “outro” complementar e com o mundo físico e natural que leva o japonês a conceber uma visão artística integrada na natureza. O “eu” não é o sujeito isolado, importando mais o “estar” do que o “ser” no mundo, tão essencial ao ocidental. Percebamos, então, a presença do Jardim Japonês, contemplando a sua natureza, o frescor da culinária japonesa presentificado nas cores, no sabor, na ornamentação dos pratos, a delicadeza e a leveza dos arranjos florais que metaforizam o céu, a terra e o homem, a imagem da poesia Haikai que conduz o leitor a uma percepção singular de um momento na natureza, a visualidade da escrita japonesa na harmonia e no movimento dos traçados, a riqueza simbólica do teatro Nô e Kabuki. E também na língua do cotidiano, na arquitetura das casas, nos sons, na polidez dos gestos e das palavras, nas onomatopéias, há sempre um sentido a tornar-se presente, uma percepção aguçada do sujeito que pensa com o coração, um significado renovado e atualizado a cada transição temporal.

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