quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O movimento MADI


José Guedes
arteguedes@uol.com.br
Artista Plástico
Diretor do Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura

O Movimento Madi consiste na primeira contribuição coerente e influente da América Latina para a história da arte universal. Seu nome não tem uma origem definida, no que se assemelha ao Dadá, mas pode ser “Materialismo Dialético, Marxismo Dialético, Movimento, abstração, dimensão, invenção, ou simplesmente letras tiradas do nome de Carmelo Arden Quin.

Este período seminal, começou com a publicação da revista Arturo, criada pelo uruguaio Carmelo Arden Quin, na Buenos Aires de 1944, com declarado compromisso com uma arte “desprovida de intenções representativas, livre de qualquer determinismo ou justificação”. A revista não passou de primeiro número , mas já reunia, além de Arden Quin, outros artistas e poetas que logo criariam aquele movimento, tais como, Rhod Rothfuss, Gyula Kosice e Edgard Bayley. Também estava presente, nesta edição, Joaquim Torres-Garcia, que, morando em Montevidéu, era fonte de inspiração e grande incentivador de jovens artistas argentinos e uruguaios. Em seu ateliê, esses artistas tinham informações, sobre as vanguardas européias , ao mesmo tempo em que lhes era cobrado o desenvolvimento de uma linguagem própria. Em seu texto para a Arturo, Torres-Garcia disse: “Atualmente estamos muito menos interessados na coisa, do que na estrutura onde ela onde ela se situa.”. E mais adiante: “Já não são mais as coisas, mas o ritmo em que no momento elas se encontram, que constitui a essência da construção poética”.

Rhod Rothfuss escreveu para a Arturo um artigo intitulado: “A moldura, um problema da arte contemporânea”. Antes, em 1942, ele havia feito uma exposição com quadros de formas irregulares, batizados por Arden Quin de “cubisme decoupé”(cubismo recortado), e esse questionamento esteve nos termos da anunciação da terceira exposição do grupo Madi, em novembro de 1946, que dizia: “ Madi inventou a moldura irregular e ornada, quebrando para sempre o tabu da moldura pictórica: ele inventou a pintura e a escultura em movimento, articulou o universal e o linear, criou a arte plástica plural e lúdica”. Na primeira exposição, em agosto do mesmo ano, Carmelo Arden Quin lançou o manifesto cujas premissas essenciais no campo da pintura foram, primeiro, a quebra da janela renascentista, seja quadrada ou retangular. Segundo a sistematização de formas poligonais com cortes irregulares. Uma outra proposta adicional era a produção de estruturas articuladas e móveis, que podiam ser aplicadas à pintura, à escultura ou à arquitetura.

Os artistas do Movimento Madi se utilizaram, com total liberdade, dos movimentos de vanguarda europeus como o dadaísmo, o construtivismo russo, o neo-plasticismo, entre outros, como ponto de partida para suas invenções. Arden Quin criou uma série chamada “Cosmópolis”, em que elementos da escultura eram incorporados à pintura. Produziu também uma série de construções articuladas que, na parede, permitiam a interferência do espectador, que criava novas relações formais; e que deflagraram, a partir da introdução do movimento na obra de arte, uma série de variáveis inaugurais.

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